Maud Mannoni (1926/1998), psiquiatra/psicanalista francesa nascida no Sri Lanka, teve como ponto central de seus estudos a loucura e a criança.
Atuou em instituições psiquiátricas e educacionais, onde mostrou que as práticas institucionais de cunho adaptativo e ideológico agiam de modo a excluir e segregar, impossibilitando o comparecimento do indivíduo como sujeito de seu discurso. Com expressiva participação na luta antimanicomial de seu tempo, seus escritos são penetrantes na denúncia do caráter sombrio dos hospitais e manicômios como instituições de total isolamento a que eram submetidos os loucos.
Sobre a influência de Fronçoise Dolto (psicanalista/pediatra francesa), com quem trabalhou no hospital de Trousseau e da teoria de Lacan, Mannoni problematizou a escuta dada a criança e ao louco nas instituições hospitalares e educacionais, questionando o próprio psicanalista e seu lugar, pontuando que quando o analista se coloca, em seu trabalho de escuta, numa posição que dificulta o advir do sujeito em sua relação com sua verdade inconsciente, estaria ele, agindo como as instituições, tomando seus pacientes como objeto e se afastando da ética psicanalítica. Atentou assim, para uma reflexão acerca do lugar do analista junto às instituições totalitárias.
A aproximação que faz entre o louco e a criança se deve ao fato de ambos chegarem a clínica a partir da demanda de um outro. Ao pontuar que o psicótico, da mesma maneira que a criança é levado ao analista por seus familiares, Mannoni abre um campo para que se possa pensar, que não se pode excluir a história que todo sujeito carrega. Ressalta uma especificidade nesse atendimento, onde o analista é confrontado com uma situação transferencial que engloba não só o paciente, mas também os pais. Assim sendo, ouvir a família e suas angústias não teria o status de atendimento, mas o de acolher os significantes que constituem o fantasma que atravessa a narrativa do sujeito, a sua história.
Autora de livros como “A criança, sua doença e os Outros”, “A criança retardada e a mãe”, “O psiquiatra, seu louco e a psicanálise”, entre outros, Mannoni teve sua trajetória profissional atravessada pela busca da palavra perdida e da verdade do sujeito. Empenhou o seu trabalho em instaurar o lugar da dúvida, lugar que permitisse questionar os modos de funcionamento das instituições que aceitavam as crianças e os “loucos” de todo tipo. Rompeu com as práticas redutoras do sujeito, tanto médica quanto psicanalítica, que por vezes encontrava-se alienada a lógica institucional.
Sem Comentários